segunda-feira, 9 de julho de 2012

Ópera Alemã Inspirando Futuros Artistas no Interior do Rio Grande do Sul

Dia 13 de junho de 2012 embarquei para o Rio Grande do Sul para cumprir a Contrapartida Social que havia proposto ao Edital de Intercâmbio e Difusão Cultural do Ministério da Cultura que viabilizou minha participação na produção de Rigoletto no Theater Freiburg.

Desembarquei na quarta-feira em Porto Alegre e segui de ônibus até Santa Maria no centro do Rio Grande do Sul. Na cidade da boca do monte, fui recebido pelo amigo Pablo Canalles, também coordenador do Curso de Bacharelado em Artes Cênicas da Universidade Federal de Santa Maria onde eu, 4 anos atrás concluí minha formação superior.

Na quinta-feira, dia 14 de junho iniciariam as atividades de: "Ópera Alemã e Encenação Contemporânea - entre tradição e modernidade". Uma palestra e uma oficina para a comunidade acadêmica do curso de Bacharelado em Artes Cênicas e Música da UFSM.

Cheguei cedo à UFSM na quinta. Foi mágico retornar aqueles corredores com tantas histórias. Reencontrar professores e entrar novamente no Teatro Caixa Preta onde eu havia trabalhado como bolsista de extensão. Os bolsistas atuais estavam a minha espera para me assessorar na organização do espaço para a palestra e depois para a oficina.

A palestra integrou a programação do Preta Café, evento organizado pelo Teatro Caixa Preta nas quintas-feiras entre 13h e 14h. De posse do material que eu havia organizado, iniciei minha ação cujo objetivo principal era despertar naquela jovens cabeças o gosto pela ópera e apresentar à eles um universo diferente de produção cênica, o do Stadttheater.

A noite, começaria o workshop. Entendi que a dinâmica deveria seguir a estratégia da palestra, ou seja, apresentar a linguagem e instigá-los para pensar nela no que diz respeito ao potencial de encenação. Trabalhamos a ópera como uma arte que permite efetivamente um trabalho de encenação, de espetacularidade.

Através de exemplos audiovisuais e depoimentos da experiência por mim vivenciada, busquei levá-los a lógica de concepção artística e da atualização do texto clássico na ópera moderna. Estes encontros duraram duas noites, quinta-feira e sexta-feira. Ao final, rumei para Santo Cristo/RS, minha cidade natal, onde na segunda-feira, dia 18 de junho iniciaria a mesma atividade.

Na segunda-feira, dia 18, de manhã, segui para a Secretaria de Educação e Cultura do Município de Santo Cristo. A equipe da secretária Sra Marli Kreutz estava reunida em reunião e fui carinhosamente acolhido por todos. Fui apresentado aos que não me conheciam e empreendemos um curto bate-papo sobre a atividade que eu realizaria na cidade. Fui informado de que haviam selecionado um grupo de alunos das escolas públicas (municipais e estaduais) do município e que estava tudo pronto para a palestra na quarta-feira. Esta, ocorreria no Centro Cultural do Município e estaria aberta à toda a comunidade.

Agradeci imensamente o cuidado da secretaria e declarei meu encantamento pela organização daquela pasta. Pareceu-me uma secretaria efetivamente empenhada na melhora do sistema educacional e na formação daquelas crianças.

Santo Cristo é um lugar especial uma vez que sua história traz consigo a história da colonização alemão no Estado do Rio Grande do Sul. É uma pequena cidade agrícola na qual a população cultiva a cultura dos antepassados colonizadores. O idioma alemão ainda esta vivo nas ruas da cidade, nas casas de famílias mais tradicionais, em celebrações e festas religiosas, na Oktoberfest e nos grupos de danças folclóricas alemãs que se mantém na cidade.

Ao contrário de Santa Maria, em Santo Cristo a oficina ocorreu antes da palestra. No mesmo dia 18 pela tarde iniciei os trabalhos com os meninos e meninas que haviam se inscrito. Compareceu, também, a professora Jacinta Rüdell, professora de língua alemã e coordenadora do movimento folclórico. Jacinta enfatizou a importância da atividade para trabalhar o interesse pela cultura dos seus antepassados e para a importância de fortalecer os laços como estratégia de fortalecimento da própria identidade brasileira em sua diversidade.

Minha missão na oficina estava na apresentação daquela expressão artística vista como chata e cansativa. Busquei apresentar à eles o repertório de Mozzart, de Bethowen e também de Puccini e Wagner. Isto fiz por meio de materiais visuais e outros apenas sonoros. Depois, empreendemos um exercício por meio do qual buscamos conceber possibilidades de encenação para o que estávamos ouvindo. Disto, surgiu a ideia de criarmos pequenas cenas para serem apresentadas no Centro Cultural de Santo Cristo na noite da palestra. Todos entraram de cabeça na ideia e nos dois dias de atividade que seguiram trabalhamos para selecionar as cenas, ensaiá-las, pensar nos figurinos e etc. A estratégia que adotei foi a de intercalar cenas encenadas com videos que os solistas cantam trechos musicais. Exploramos o singspiet, genero operístico que intercala cenas cantadas com cenas faladas e que caracteriza óperas como "A Flauta Mágica" de Mozzart e "Fidélio" de Beethoven.

O mais interessante foi perceber que eu estava conseguindo levar aqueles jovem a gostarem da ópera. Eles estavam gostando de ouvir e pensar sobre além de imaginar as encenações. De outro modo, uma outra faceta da cultura alemã estava sendo apresentada a eles e elas. Tudo isso, somado a empolgação de poderem apresentar um espetáculo na quarta-feira que se aproximava, levou todos ao mais absoluto êxtase estético.

Deixo o relato e apresento a seguir algumas fotos:









quarta-feira, 13 de junho de 2012


"Ópera Alemã e Encenação Contemporânea"

 palestra e workshop 

14 e 15 de junho de 2012

Preta Café - Teatro Caixa Preta - Espaço Rosane Cardoso - Universidade Federal de Santa Maria

Contra-partida para o Edital de Intercâmbio e Difusão Cultural do Ministério da Cultura, através do FUNDO NACIONAL DE CULTURA, no qual fui contemplado para realização de um estágio de assistência de direção artística na montagem da ópera "Rigoletto" de Giuseppe Verdi com direção de Thomas Krupa no Theater Freiburg, Freiburg im Breisgau - Alemanha.




18, 19 e 20 de junho de 2012
Auditório do Centro Cultural de Santo Cristo - Santo Cristo/RS
Escola Municipal Mainardo Pedro Boelhover








sábado, 14 de abril de 2012

Zurück...

voltar... as vezes é difícil sair de um novo estado de coisas, um novo modo de vida, do novo voltar para o velho. o novo cria em você a impressão de vida. é como retornar ao estado de criança e tudo tem novamente um colorido, mistério, um ar de aventura.
A aventura do novo é tão intensa que quando é chagado o momento de deixá-la nos sentimos tristes. Retornar ao velho implica num retorno à algo que você não é mais. Duas opções se apresentam: readaptar-se ao que foi antes ou inventar um novo lugar para estar.

Colega de apto, Juliane, não foi só o estágio. O aprendizado intercultural em "casa" também foi intenso.

Katrin, colega de apto.

Colegas de Apto.

Colegas de Apto.

Vista do terraço do Theater Freiburg

Experiências interculturais.

Hora de partir.

O tempo não para....

Últimas Reflexões


O processo de finalização de um espetáculo é sempre o mais empolgante. Quando cenário, figurino, luz e outros elementos adquirem forma concreta e podem ser visualizados, tocados, cheirados a magia da cena tem lugar. Auf dem Bühne tudo é absolutamente concreto e a solução de questões não permite devaneios, apenas decisões objetivas e experimentações. A expressão de ordem na cena é: “funciona ou não funciona”, quando não funciona tem lugar outra pergunta: “por quê?”. Esta pergunta exige uma resposta absolutamente ativa que abra espaço para algo passível de ser testado.
Na atmosfera intensa e nervosa dos ensaios gerais, a criação é como um jogo de futebol em final de campeonato. A adrenalina mobiliza nervos, pele, músculos e ossos. A concretude da cena não permite estados sonolentos, exige e permite apenas uma atitude absolutamente desperta, viva. No momento de levar o espetáculo para o palco, não se está falando mais em arte do ator, mas, em arte do encenador. A arte do ator tem lugar novamente na estréia e então o diretor/encenador desaparece. Agora, é exigido do encenador que administre e articule uma infinidade de elementos, tempos, ritmos, sonhos, projeções, desejos, maquinarias e etc, etc.
Penso que o prazer do diretor esta na constante oscilação de adrenalina no processo de criação. Em um instante é tomado de uma grande alegria quando um ator ou uma cena funciona, em outros é tomado de uma grande raiva por não conseguir visualizar no palco o que quer.  Este constante de altos e baixos é extremamente instigante.
Uma constatação hoje. Um dia Thomas disse que por ele eliminava a orquestra por ser um espaço muito grande que distancia público da cena. As óperas que assisti aqui tem uma característica que é a de utilizar o espaço cênico de forma bastante aberta, um espaço profundo e a cena de certo modo distanciada do público. Thomas, ao contrário, utiliza em Rigoletto um espaço tridimensional e profundo, mas, aproxima enormemente a cena. Toda a ação principal do espetáculo ocorre na frente o mais próximo possível do público.

Foto do Espetáculo - by Maurice Korbel

Foto do Espetáculo - by Maurice Korbel

Foto do Espetáculo - by Maurice Korbel

Foto do Espetáculo - by Maurice Korbel

Foto do Espetáculo - by Maurice Korbel

Foto do Espetáculo - by Maurice Korbel

Foto do Espetáculo - by Maurice Korbel

Foto do Espetáculo - by Maurice Korbel


Foto do Espetáculo - by Maurice Korbel




Quarto de Gilda finalizado... Foto by Leonel Henckes


Considerações sobre ensaio do dia 12 e 13.03 - Cenografia



Conversando com Simeon aprendi algumas coisas legais sobre cenografia. Ele contou que Rigoletto era seu primeiro trabalho como cenógrafo de óperas e a partir deste ponto mostrou-me algumas diferenças entre se trabalhar com uma arte ou outra.
Em primeiro lugar algo que Fausto já havia me contado sobre a estrutura fechada na qual se monta uma ópera. A elaboração antecipada da concepção e o fechamento antecipado da cenografia, do figurino é uma especificidade das óperas. No trabalho com atores o caminho é um pouco diferente. Segundo Simeon, a ópera exige menos, pois, você elabora o projeto e faz uma maquete e está pronto. Tudo será apenas executado, não será necessário transformar muito aquilo. No teatro o cenário está constantemente em processo. Os atores e o diretor no decorrer dos ensaios vão tendo novas idéias e reelaborando a proposta cenográfica. A partir disso o cenógrafo precisa estar se adaptando também, propondo elementos, soluções e estimulando igualmente a criação.
Conversamos sobre o fato de que cenografia e cena precisam estar em um casamento harmônico. Precisam estar em diálogo e não concorrer. Grandes palcos e grandes espetáculos pedem grandes cenografias e estas podem contribuir muito para o sucesso do espetáculo. Nesse sentido é importante que haja um diálogo fecundo com o diretor e uma compreensão plena da concepção sobre a qual se está trabalhando.

A música, a orquestra é o fluxo que precisa ser seguido, isto ficou muito claro com a entrada da orquestra nos ensaios de ontem e de hoje. O problema de ritmo verificado no ensaio geral praticamente desapareceu com a presença do regente e da orquestra. A ação ganhou igualmente mais pulsação.


Técnicos montando o cenário antes do ensaio.

Assistente de Figurino (dir.) Annika Kneusslin e Assistente de Figurino Estagiária (Esq.) Eleonora Arnold

Quarto de Gilda quase finalizado.

Quarto de Gilda quase finalizado.

Assistente de Figurino (dir.) Annika Kneusslin e Assistente de Figurino Estagiária (Esq.) Eleonora Arnold  e Eu passeando num intervalo.

15.03. 2012 - Último Ensaio



O último ensaio. Depois de quase um mês e meio vivendo intensamente cada dia de um processo criativo ao lado de pessoas extremamente especiais, é chegado o momento das despedidas.
Muitos desafios vencidos, principalmente a barreira da comunicação. Pessoas que por um tempo tornaram-se próximas e que talvez eu não volte a ver. Construímos todos juntos um belo espetáculo.

14.03.2012 - Quando a música tem mais poder



No ensaio de hoje uma surpresa. O tenor foi substituído. O ensaio foi com figurino, Orquestra e luz. A luz está bem melhor e amanhã chega um novo tenor vindo de Londres. Estou um pouco tenso com tudo isso.
Uma constatação sobre encenação:
Lembro que Aldri tinha a ideia de fazer a neve em “Namibia, Não!” usando projeção. O diretor não concordou e criou uma neve de isopor caindo pela janela do fundo do cenário. Em Rigoletto, o palco é todo branco e na cena da tempestade, ela é criada com uma projeção na frente, dentro, em cima do cenário. A teatralidade ganha espaço de maneira brilhante e simples. Isto é sair de uma convenção realista. Isto é ser contemporâneo. 

12.03.2012 - Leitmotv



Hoje no ensaio com a Orquestra compreendi um pouco melhor o que Thomas havia dito outrora sobre a música e a cena em Verdi. Com a Orquestra ficam evidentes os Leitmotivs e como a música preenche os espaços de ação como se fosse uma trilha sonora. É legal perceber quando a ação foi bem  desenhada e foi compreendida pelos cantores de modo a formar um perfeito encaixe ou quando o cantor compreende os momentos em que sua ação esta em confronto com a música.
A Orquestra trouxe outra questão interessante. A música cria um conflito com a ação. Antes quando era apenas o piano, o pianista ajustava. Agora com a Orquestra o canto precisa estar harmonizado coma música e isto as vezes não se encaixa com a ação no sentido orgânico.


Seguem fotos dos ensaios de iluminação.




Teste de projeção de imagens sobre o cenário.

Cenário já finalizado.

Cenário já finalizado.

Detalhe da janela do cenário já finalizado.

Casa 3 do cenário já finalizado.

Vista do urdimento.

12.03.2012 - Ritmo, ou você tem ou você não tem.



Tim conversou comigo sobre o ensaio musical.
Segundo ele não foi muito bom. Os cantores estão com problemas musicais de  ritmo e afinação. Este ponto me parece importante ser refletido. Ele disse que muitas vezes os cantores são livres, sem medo, bons atores etc, mas, não são precisos em afinação e ritmo. Às vezes os cantores têm as duas qualidades.
Tim foi drástico ao afirmar: “Ritmo é uma coisa que você tem ou não tem.”
No ensaio com o pianista, ele pode atrasar ou esperar etc. no caso da orquestra, ela vai e você precisa estar com ela e sobre ela. Como se estivesse cavalgando. A orquestra é o cavalo.
A cena trabalhada foi o prelúdio de Juan. Quando ele entra como clown sozinho no palco.
Legal o modo como Thomas constrói a relação dele com a orquestra e com o público visando o estabelecimento do leitmotiv e introdução da história.
É curioso como o cantor é obrigado a fazer uma cena de clown sem ter sido iniciado. Ao mesmo tempo é legal como não tem misticismo no clown.
No final funcionou e ambos, diretor e cantor descobriram pontos interessantes como a relação de Rigoletto com a Orquestra. De como e porque ele pega o instrumento de sopro e etc.
Hoje fiquei profundamente emocionado com o trabalho de Thomas com Juan na cena clownesca. Foi muito lindo ver Thomas trabalhar. Vejo muito a ideia de contato no modo como ele trabalha com os cantores. Ele se envolve e joga junto com o ator. Está junto intensamente dando energia e inspiração.
Lembrei, também, da professora Rosane Cardoso. De suas aulas, dos momentos com ela no Caixa Preta, da intensidade da sua relação com os alunos. Rosane compareceu ao ensaio aqui hoje, ao menos em minha memória. Foi um momento lindo.
Thomas busca na cena que está sendo trabalhada agora com a cantora que substitui Madalena, a compreensão de que não se trata apenas de lugares no palco para estar e cantar. Também não se trata de olhar por olhar, como marca. É ação, é aktiv. Thomas leva os cantores a perceberem todos os momentos, os micromomentos de ação.
A questão é sempre: como resolver na cena? Concretamente.

Encontros extraoficiais



Em uma conversa com uma das atrizes do elenco estável de atores do Theater Freiburg, pude conhecer um pouco mais a cena teatral alemã e o trabalho dos cantores na ópera.
Ela me falou que os cantores de ópera são acomodados, sabem cantar e ponto, isto basta. Interessante é quando você enxerga um cantor e busca algo mais (citou a montagem de Otelo e a sopranista).
O paradoxo do cantor de ópera é a música. É uma estrutura fechada, dura. Conseguir fluir e ser vivo dentro dela é o desafio. Quem consegue é genial. Como Callas.
Disse ela: “quando vejo um espetáculo de ópera, me interessa perceber quem busca algo mais...”
No que diz respeito aos teatros estatais, nem tudo é perfeito.
A conversa começou com algumas insatisfações deles em relação ao trabalho. Um problema é o excesso de atores na Alemanha. Todos os anos saem das escolas mais de 20 mil profissionais que buscam vagas nos teatros estatais. Logo, há muita oferta e assim dificuldade em se manter em um teatro por longo tempo. Há, também, mais mulheres do que homens na profissão o que dificulta o campo para as mulheres.
Tanto ela quanto outros atores manifestaram o desejo de ter um ano livre. Um ano sem a burocracia do teatro estatal, sem estar em cartaz com várias peças ao mesmo tempo. Um ano para experimentar, fazer cursos etc.

07.03.2012 - Problemas de Ritmo... na ópera??



Hoje ocorreu um ensaio de 2 horas para acertar movimentação do palco, tempos e etc.
Durante a tarde, ensaio de luz e agora a noite, ensaio geral.
O ensaio geral é feito com luz, figurino, cenário e até legenda. Vai ser muito legal.

A função do assistente de direção aqui é a mesma do Brasil. Anotar o que o diretor fala, seus apontamentos etc.

Começou o ensaio.
De imediato apareceram os problemas de ritmo. Curioso pensar em problema de ritmo em se tratando de uma ópera.
Ficou evidente que em cenas de grupo é importante organizar os núcleos.
É ótimo ter um ensaio geral com 2 semanas de antecedência. Ter o tempo para arrumar e perceber todos os problemas com grande antecedência.
A sensação após o primeiro ensaio geral é sempre desoladora. Muito trabalho por ser feito ao mesmo tempo em que há um bom resultado já alcançado. A imagem que ficou para mim é a do diretor sozinho no palco ao final. Colocou seus óculos e procurou alguém na plateia. Não parecia buscar ninguém, somente uma resposta, talvez. Uma aprovação ou desaprovação. Qualquer coisa.
O ponto mais problemático me pareceu ser as últimas cenas, ou seja, as menos ensaiadas. A luz precisa de suplementos e a cenografia funcionou maravilhosamente.
Após o ensaio, nos reunimos na cantina para conversar.
Thomas falou com todos. Começou indicando um filme de Felini para Fausto. Outra referência cinematográfica para todos foi Tarantino.
É tão lindo trabalhar com profissionais sem pessoalidades, sem ego, com compreensão, carinho e afeto.
Tanto o teatro como a ópera são artes feitas a partir do encontro entre pessoas. Este encontro não precisa ser transcendental, mas, apaixonado. Não precisa ser monástico, mas, lúdico, inspirado, leve, conflituoso e criativo.
Estou realmente emocionado. Triste, também, por estar tão próximo de eu voltar para o Brasil.
-- Para mim, o principal problema ontem, esteve na luz, nas entradas e saídas e em algumas cenas mecanizadas e não compreendidas. Também, problema de ritmo.
Thomas busca, me parece, o entendimento do lugar de cada coisa na obra do autor. Qual a função do coro em Verdi? Certamente há características que o diferenciam de um coro de outro compositor.
Perceber, também, o que é exagerado e que precisa ser dosado é um ponto fundamental.
As artes d palco são sempre amplamente mutáveis. Hoje a não funcionalidade da árvore e da fonte no quarto de Gilda fez com que buscassem de imediato uma nova solução. A ideia foi abolir a tridimensionalidade e colar as imagens na parede de modo bidimensional.
A cena ficou limpa e aberta.
Na iluminação um truque interessante. Utilizaram fluorescentes comuns. São 4 lâmpadas como fluorescentes nas laterais do palco.


Ensaio com o Coro em cenário original. 
Quarto de Gilda original carecendo apenas de acabamento.

Cenário quase finalizado.

Cenário original quase finalizado.

Vista do cenário quase finalizado. No palco estão o cenógrafo Simeon Meier (em amarelo) e Petra (inspizienz). 

Iluminação sendo experimentada sobre o cenário.

05.03.2012 - “precisam ir para uma escola de atores.”



Um novo Borsa.
Hoje Thomas após trabalhar repetidas vezes uma cena voltou para sua mesa e disse: “precisam ir para uma escola de atores.” ele fez um trabalho interessante, disse para a cantora: “qual é o fluxo da ação, contra-ação?”  e construiu para ela uma lógica de ação que a deixou mais ativa.
Hoje trabalhamos com um novo Borsa e a cena ganhou em qualidade.
Na cena seguinte, com Sparafuccile, novamente a questão da música e, neste caso, uma relação integrada entre música e ação.
Pela noite, no palco, trabalhamos com o coro novamente. O cenário já era uma versão definitiva, faltando apenas acabamentos. Testamos a movimentação do palco e Thomas concluiu que a cena final não funciona conforme o planejado.

02.03.2012 - Sobre Verdi e Encenação



Thomas falou de algo que preciso perguntar de novo sobre a música de Verdi. Eu não peguei muito bem, mas, disse que a música pode ser utilizada para a cena ou não.
O termo orgânico é muito utilizado, tanto pelos músicos quanto em relação a ação na cena e em relação aos elementos. O dramaturgo está sempre presente e é constantemente consultado.
É interessante pensar no trabalho que antecede o início dos ensaios. Quando o diretor junto com a equipe elaborou a concepção.
Embora haja uma concepção elaborada, há muito espaço para criação. Fausto, contudo, me contou que em geral a ópera tem um tempo curto de montagens e que os diretores, muitas vezes passam para o assistente a marca e este ensaia os cantores. Thomas trabalha experimentando, ouvindo os artistas e dialogando. Muitas vezes ele mostra o que ele quer.

01.03.2012 - Sobre o Medo



Estamos a 19 dias da estreia. Estou ansioso e apreensivo para ver o que irá ocorrer nos próximos ensaios.

Sobre o medo
O medo faz com que o cantor/cantora não seja tão eficiente quanto pode ser. O medo bloqueia o trabalho.
Ontem assisti uma grande cantora com uma voz belíssima e ela era boa por não ter medo.
É tão mágico quando a solução das cenas vai se revelando no decorrer do processo. Como hoje no caso da cena de Giovana. Havia um problema no estabelecimento do conflito na cena. Thomas direcionou a ação para dois planos (dentro e fora do quarto) o foco de Giovana passou para fora, para o Duque que ali estava. O duque deixa cair seu relógio e isto desencadeia a tensão que leva Rigoletto para fora do quarto. Quando o Duque entra no quarto, Giovana sai e se posiciona na boca de cena assistindo a cena apresentada no quarto. No final, ela entra correndo atravessando o espaço entre o casal e os separa pedindo para o Duque partir, pois, Rigoletto está por perto.
Esta entrada brusca, levar a cena para fora do quarto e usar a boca de cena, todos estes elementos deram concretude a situação. Tornaram-na objetiva, real.
Estamos trabalhando hoje na preparação da substituta de Alexssandra em casos de doença e eventuais problemas. Todos os solistas possuem um substituto preparado.
Era uma cantora chinesa com um trabalho muito bom. Ela é uma excelente cantora e também interprete. Deu um colorido especial à ária de Gilda.
Ao final, vejo que o ensaio foi produtivo e tranquilo. É legal observar como a cantora chinesa é extremamente técnica.

Abend
Heute abend der Probe fang mit dem quartet an. Ich leider später ankommen, aber, kein problem. O ensaio ocorreu de maneira bem legal. Experimentamos luz e a atmosfera estava muito leve e descontraída.
Uma pequena crise, o diretor musical achou um pouco exagerado a força de atuação do duque visto que a cena musicalmente é pianíssimo. Thomas não concordou muito, mas, aceitou. Eu acho que ficou igualmente bom, mas cabia o que havia sido feito anteriormente.
 Gosto deste modo de trabalhar já com todos os elementos, atmosfera, luz, figurinos etc. é possível ir testando as coisas. No caso de não funcionar, substitui-se.
A cena final está ficando ótima. É interessante como o ensaio no palco fez com que as coisas ficassem mais claras e agora as soluções estão bastante palpáveis.

29.02.2012 - Um mês de ensaio



Já faz 1 mês que estou aqui na Alemanha. Às vezes me sinto muito bem e as vezes não muito. É como se de algum modo eu soubesse como esta vivencia será processada e utilizada por mim e em outras não. Às vezes é como se eu estivesse perdendo um tempo precioso. Nos ensaios da ópera, sinto que estou aprendendo muito, principalmente, estou amadurecendo meu olhar como diretor. Espero que isto venha a trazer bons frutos para mim no futuro.
Acompanhar o trabalho do Thomas é bastante enriquecedor. Ele é muito generoso, inteligente e suas ideias são bastante criativas. Sinto que estou em meio a pessoas realmente muito especiais.
No ensaio de hoje, novamente no palco, finalizamos a cena com o coro e funcionou. Parece que está funcionando.

25, 26 e 27.02 – Primeiros ensaios no palco



Hoje dia 25.02 ocorreu o primeiro ensaio no palco da Großes Haus. Cheguei ao teatro de manhã, empolgado pelo fato de que ensaiaríamos no palco principal do teatro. Tudo já estava pronto. Uma réplica do cenário estava montada em tamanho real. Uma das casas que compõe o cenário já estava no seu formato quase definitivo e muitos técnicos trabalhavam para ajustar tudo.

Palco preparado para o ensaio. Casa 2 - quarto de Gilda em versão provisória para ensaio. No fosso da Orquestra estão o diretor Thomas Krupa e Tim Jetzten (Assistente).
Técnico finalizando a Casa 1 do cenário provisório.


O foco principal do ensaio foi testar a movimentação do palco giratório no tempo das cenas e da música. Conheci a figura da inspizienz, Petra Deißler-Benoit. Que seria a chefe de palco. Eu e Petra nos tornamos amigos, uma pessoa de alma belíssima. Ela que coordena desde uma central os técnicos, a movimentação do palco, a gravação de cenas e o contato com outros setores do teatro.


Central de operação do Inspizienz (chefe de palco)

O ponto era a transição de palco para a entrada de Sparafuccile, a movimentação para a chegada do quarto de Gilda, depois, para o terceiro ato até a morte de Gilda onde ocorreriam muitos efeitos.
Utilizando uma versão de Rigoletto gravada em CD, testamos os tempos da música num exercício minucioso.
No ensaio de palco, também, tivemos o primeiro contato com o coro e era preciso inseri-lo na encenação. Quanto trabalho. Mais de 25 pessoas para serem organizadas organicamente nas cenas, compondo situações e dinamizando o trabalho. As atrizes que estavam trabalhando como figurantes mostraram-se extremamente importantes neste processo. Elas garantiam um mínimo de ritmo na movimentação do coro e davam vida à ele. Parecia-me, por vezes, que um coreógrafo conseguiria resolver rapidamente aquelas cenas. Contudo, Thomas parecia buscas soluções no âmbito da encenação, do teatro. Queria o aktiv e queria o kontakt.
No primeiro dia tudo transcorreu de maneira tranquila.
No dia seguinte, para minha surpresa Tim ausentou-se do ensaio. Assumi sozinho, a função de Assistente de Direção. Foi muito tenso, sentia estar atrapalhando o tempo todo. Mantive-me sentado anotando marcas e me mantendo atento ao libreto para quaisquer eventualidades. Thomas ficava muito irritado quando necessitava encontrar uma página e ninguém dizia rapidamente qual era. Tim era muito bom nisso, em antecipar as necessidades do diretor.
Os três ensaios no palco, ficaram centrados na inserção do coro na estrutura das cenas. A orquestra ainda não compareceu aos ensaios. Houve também testes de figurinos e chegaram as Máscaras.
Em geral, os ensaios no palco são um pouco tensos. Por um lado por chegarem agora os cantores do coro. Por outro, por ser ali o lugar e o momento em que surgem os problemas, ou, eles se tornam visíveis.
Hoje (27.02) particularmente, esta sendo interessante ver como se trabalha com um grande número de pessoas no palco. É preciso equilibrar a cena e conseguir os efeitos desejados fazendo com que todos ajam.
Aos poucos a estrutura da cena foi sendo desvelada. Isto se deu a partir da compreenção das relações entre os personagens na cena.
As relações foram de certa forma definindo os lugares e o desenho da cena. Também a atmosfera e a energia foram sendo encontradas.
É impressionante como a compreensão precisa dos objetivos e tarefas ajuda no desenrolar orgânico e funcional da cena.
Novamente ficou evidente o problema dos atores com excesso de ação ou de fazeção. Thomas disse para a atriz: “fica aqui e não faz nada”.
Fomos para o intervalo e na sequência experimentamos a ária de Gilda com o coro fazendo bonecos. Foi lindo.
Thomas insistia muito para que as atrizes fossem orgânicas. Algo parecia não acontecer na cena. O problema era foco talvez? Realmente, porém, outro problema ficava evidente. Os cantores trabalhavam no ritmo da música e a cena parecia pedir outro ritmo.
Parece que a questão é mais do que meramente coreográfica. É de ação. É encontrar o desenho do conflito. Resolver as relações.
A questão da situação apareceu com força. Por vezes parece que uma intervenção coreográfica resolve, mas, é ilusão. Apenas a compreensão da situação e seu desenho exato pode resolver a cena. No caso da cena com o coro, em que Gilda é raptada, o problema estava justamente na falta de uma situação definida para o coro. Não há situação, este é o problema.


Seguem fotos do primeiro ensaio no palco com uma versão provisória do cenário:



Uma das casas quase concluída em sua versão definitiva.

Vista do cenário sobre o palco e a extensão do palco ao fundo onde outros cenários são guardados.

Cenário com partes originais em processo de construção e outras partes provisórias.


Teste de projeção sobre cenário provisório.

Cenário provisório, coro e solistas.

Quarto de Gilda em sua configuração provisória.