No ensaio de hoje,
Thomas apenas conversou com o protagonista que estava doente. Falou basicamente
sobre a concepção. Foi como se, após a pausa do carnaval, Thomas não satisfeito
com o que havia alcançado até ali, resolvesse conversar com eles a fim de
esclarecer a concepção e alimentar o imaginário dos atores/cantores.
Observo nisso uma
característica comum aos processos de encenação que acompanhei no Brasil. Há um
primeiro momento de experimentação e um momento onde se faz necessário uma
tomada de consciência do processo. É como se a análise ativa com os atores
(teoria) viesse a posteriori.
Primeiro se explora as
situações, as cenas, as motivações de maneira até intuitiva. Depois, faz-se o
ensaio de mesa, debate-se personagens, cenas etc. É mais ou menos como
trabalhávamos em Santa Maria. Primeiro o treinamento, depois a improvisação de
situação e criação de partituras e cenas estruturadas, finalmente, senta-se e
compreende-se o que se busca e vasculham-se racionalmente os pormenores das
situações.
No caso de Rigoletto,
as conversas parecem ter funcionado para precisar as intenções dos cantores na
cena. A utilização de iluminação nos ensaios é outro dado que ajuda na feitura
da atmosfera da cena. Lembrei muito dos ensaios de “Últimos Capítulos” e
“Horla” que ganhavam muito quando o ensaio era feito com luz e criação de
atmosferas.
É ótimo trabalhar com
tudo sempre a disposição e com os elementos já nos ensaios.
Pontos importantes:
- a compreensão da
situação;
- estar ativo na cena;
- geralmente as cenas
com menos movimento são as mais fortes;
Thomas faz sempre
perguntas. Uma das mais recorrentes é: “o que você está dizendo?”
Descobrir (entdecken) a marca, a ação junto com o
ator, em contato com ele no calor da cena é realmente muito importante.
Novamente recorro a Anne Bogart quando esta fala de seu prazer em conhecer
pessoas e de estar em contato com artistas na tensa atmosfera da sala de
ensaio.
A conversa seguiu:
- Rigoletto é
atormentado. O tempo todo, os fantasmas do seu ato estão presentes.
- Ficou claro agora,
que a falta de conflito (no sentido de isto estar plasmado em ação) e a falta
do “activ”, provoca o não funcionamento da cena. Quando a cena ficou “Activ”,
começou a funcionar. O “activ”, desse modo, está de algum modo relacionado com
o entendimento da cena, da situação.
Thomas inseriu um
truque. O duque deixa o relógio cair fora da cena e isto desencadeia uma nova
agitação dentro do quarto. Ao mesmo tempo, estabelece uma relação entre Giovana
e Fausto que cria dois planos e conecta a ação para a entrada do Duque. É
interessante que nesta cena estava-se buscando a solução dentro, na ação de
Giovana. Contudo, estava faltando uma intervenção externa, como um estímulo que
vem de fora e provoca uma transformação, movimento. Faltava deixar claro qual
era a circunstancia dada para a saída de Rigoletto e agitação de todos na cena.
Agora há ação,
finalmente funciona. Mas, para conseguir, foi necessário recorrer a recursos
externos.
Abend
Novo problema. É
preciso encontrar o tom adequado. Ela não é Maria Madalena e também não é Nossa
Senhora dizia Thomas.
Observei hoje nos
cantores que há uma recorrente antecipação das ações. Ou seja, não há vivência
genuína.
É divertido ver Thomas
dirigindo. Ele percebe a encenação como ritmo. Como se ele fosse o regente.
-- Impulso para eles é
quase sinônimo de reação.
Depois de uma passada
geral da cena, Thomas apontou pontos positivos e negativos. Trabalhou “starts”,
velocidade, abertura de cena.
Como a função do
diretor é uma função solitária. Ele está imerso em seu devaneio criativo e
precisa intensamente fazer com que todos se envolvam.
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