terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Erste Proben

Heute (hoje) cheguei ao ensaio de manhã com meia hora de atraso (später). Acordei 8h da manhã com o celular tocando. Me preparei tranquilamente pois o ensaio começava as 10h. Quando chego na sala estranho estarem todos os colegas de apartamento despertos. Pergunto a hora e dizem: 10h. Como? Olho para o relógio do meu celular e este marca 8h45. Em pânico saí correndo para pegar o Straße Bahn (foto). Cheguei no teatro e corri para a Sitzungszimmer. Abri a porta e estavam reunidos o diretor, assistente, figurinista e o protagonista. Entrei e disse: Tut mir leide!!! Todos me olharam e seguiram trabalhando como se não tivesse ocorrido nada.
Descobri hoje que o protagonista, o tenor mexicano, vai ser acompanhado por uma interprete para o espanhol.  Fiquei um pouco triste com isso. Quero aprender alemão.
Bom, quero falar do ensaio.

Basicamente foi uma conversa. Thomas conversou com o cantor que fará Rigoletto sobre o personagem. Discutiu-se sobre os momentos da peça, sobre o caráter do personagem, sobre os contrastes, conflitos, paixões. Estavam presentes ainda o Dramaturg e uma consultora de literatura italiana.
Thomas acha que Rigoletto tem por prazer assistir as situações de tirania da corte. Joga com estas situações e manipula as pessoas com suas brincadeiras e piadas. Como um bufão, ele tem liberdade para assistir de fora os conflitos, os sistema e debochar e até intervir. Rigoletto pensa que sabe tudo, se sente onipotente. É uma ópera, também, do ponto de vista musical, muito perfeita.
Rigoletto parece muito relaxado o tempo todo em suas brincadeiras, mas, na verdade não é. Esconde grandes e dolorosos conflitos.
Para Thomas, todas as sociedades são pequenas miniaturas.
As sociedades são recheadas de podridão, ressaca, ódio, artimanhas, malandragem e tirania. Em meio a tudo isso, aparece a filha de Rigoletto (GILDA) como um verdadeiro anjo. Um refúgio para ele. Para protegê-la, ele a mantem encarcerada em casa. Pensa ser ela uma presa fácil nas mãos dos vários malandros que o cercam. Ademais, carrega em si um ódio e um conflito enorme por sua deformidade física e também intelectual. Na corte certamente é visto como alguém jamais poderia ter uma esposa bela. Contudo já a teve e esta o amou mesmo com seu aspecto não belo. Esconde da filha a identidade desta mãe e também de si mesmo tendo em vista que a filha não sabe ao certo o nome do pai.
A busca de Rigoletto, e também da filha (Gilda), é pela identidade.
Na ópera, o Duque, chefe de Rigoletto é visto como o ideal sobre o qual Rigoletto se projeta. Um homem rico e belo, mas, sem qualquer tipo de escrúpulo em relação aos sentimentos femininos. Para ele esta ou aquela mulher é indiferente. O que o move é a sexualidade quer ter todas as mulheres para satisfazer um desejo imediato. Ao mesmo tempo, reclama por não encontrar um amor. Este é seu sadismo. Rigoletto conhece esta faceta do personagem e por isso se desespera quando sabe que ele está se envolvendo com sua filha.
Thomas esclareceu que todos os momentos de transformação em Rigoletto são acompanhados de grandiosidade musical e de efeitos e elementos técnicos.
O grande ponto na complexa construção do caráter de Rigoletto e de seu movimento dramático está no fato de que "quando alguém permite que o medo entre se passam as coisas, as tragédias." Thomas

Achei muito interessante a intensa relação do diretor com o Dramaturg e com a consultora de literatura italiana. O tempo todo ambos eram convocados a esclarecer detalhes da obra.

Para todos, há dois lados em Rigoletto:

1) o simpático, clown, leve e feliz;
2) o escuro (dunkel), carregado de pensamentos de morte, o trágico, vingativo, louco;

Ele quer represar suas emoções, mas, não consegue.

Em relação a Gilda, ele a vê como uma criança, mas, ela não é mais uma criança. Ao mesmo tempo é uma vez que é totalmente dependente dele.
Gilda é justamente a responsável por levantar seu ânimo todos os dias. Sua presença o alegra.

Quanto a relação de Gilda com o Duque. Esta se apaixona mesmo antes de vê-lo.
Sua pergunta é "De onde venho?" uma vez que não conhece nem mãe e o pai é uma máscara, um personagem sem mesmo um nome.

Interessante, também, foi acompanhar a fala do protagonista sobre sua visão do personagem. Contudo, não irei publica-la aqui.

Na concepção há ainda uma compreensão de que há um contraste constante entre Rigoletto e a corte. Assim, Sparafucile (o assassino) aparece como alter-ego. Um espelho em que Rigoletto se reconhece, reconhece sua outra face. A relação é semelhante com a do de Otelo com Iago em Otelo de Shakespeare.

Em seguida falou também Fausto, o cantor que faz o Duque e a figurinista apresentou referencias para a construção de figurinos. Como compor um clown, um bobo de corte, um palhaço moderno. Utilizaram referencias de Miky Mause como um clown do mercado, do sistema consumista.

Não sigo com mais detalhes por questões de confidencia em relação ao que ocorre no processo dos ensaios.


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