domingo, 12 de fevereiro de 2012

Sparafucille

Hoje trabalhamos a cena em que Rigoletto, após ser amaldiçoado se encontra com Sparafucille, um assassino de aluguel.
Ele se oferece para matar quem por ventura estiver perturbando Rigoletto por um preço baixo. Em toda a cena a ideia é persuadir Rigoletto a fazer algo que até então não havia pensado. Contudo, é a chance de Rigoletto vingar-se da nobreza que dele ri e resolver sua triste sina de ser bufão.
Na concepção de Thomas, Sparafucille é uma espécie de alter-ego de Rigoletto. Ele trabalha coma  imagem de um espelho onde Rigoletto enxerga seu outro lado. O lado escuro, cruel, assassino.
A cena é bem difícil e não conseguimos chegar a uma solução. O cenário estava posicionado de maneira distinta como se fosse os fundos da casa do primeiro ato. Nesse sentido, vale um parenteses para dizer que o diretor e o cenógrafo elaboraram um storybord com todas as cenas e mudanças de cenário. (Foto)

Maquete de Cenografia

StoryBord de Cenografia

Logo apareceram várias demandas de "Requisite" para a cena. Aliás, para todas as cenas do segundo ato. Estou responsável pela Requisite Listen que é a lista de elementos de cena. Ao surgir a necessidade por parte dos diretores e dos atores eles são solicitados no "Requisite". Um departamento onde há tudo que se imagina. O diretor, por exemplo, queria bonecas e brinquedos infantis. Fui ao "Requisite" e uma hora depois  funcionários trouxeram 30 bonecas, brinquedos e outras coisas. Não são os elementos oficiais, mas, os elementos de ensaio.

Durante o ensaio da cena com Sparafucille, observei algo nas pernas dos "atores/cantores". Estavam sempre rijas e posicionadas sem muita curvatura ou abertura de base. Questionei Tim sobre isso e ele disse ser normal esta postura por serem cantores. Contudo, não via a mesma postura em alguns atores/cantores (inclusive os que considero melhores e mais orgânicos) depois falei com Thomas sobre isso rapidamente e ele concordou que alguns tem a coluna travada na base no encaixe com o quadril. Principalmente os cantores orientais.

Me pareceu, nesse sentido, que não havia uma total compreensão dos atores/cantores sobre a situação proposta. O diretor estimulava-os à compreenderem a atmosfera e a qualidade de ação necessária, mas, faltava algo, faltava um certo contato, a fisicalização da ideia de espelho na cena. Estou curioso para saber como ele resolverá ela num próximo ensaio.

Acho ótimo perceber como há uma concepção de encenação muito bem elaborada, discutida e amadurecida entre diretor, cenógrafo, dramaturgista e figurinista. Os figurinos e acessórios estão presentes desde o início bem como um protótipo em tamanho real do cenário. 

Quanto a condução dos atores/cantores por parte do diretor. Thomas trabalha o tempo todo com a ideia de concretude. Olhar para o que é concreto no espaço. Para as pessoas que estão ali, para os objetos. Busca uma espécie de sinceridade na atuação deles, mesmo que estejam cantando uma música antiga e com uma estrutura bastante dura.

O tempo todo, também, o diretor trabalha com os atores/cantores, com o esclarecimento do que estão dizendo. O sentido das frases, das palavras. Como se trata de uma ópera italiana, contamos com a presença de uma consultora em língua italiana que tem por missão traduzir e esclarecer os sentidos do texto.

Ouvi Thomas dizer que é importante trabalhar primeiro com as cenas-chave do espetáculo. Ai vejo um importante principio de encenação. Ao resolver as cenas-chave, abre-se caminho cara uma melhor compreensão dos atores do seu fluxo de ação na obra. É nas cenas-chave que se encontram as pistas e a essência das relações propostas na obra.

Percebo, também, que as vezes não é o ator/atriz que não consegue fazer uma cena. A cena é que não consegue ser resolvida. Pode ser a interpretação, sim. Pode ser a composição, a concepção, um elemento, um signo, enfim, uma infinidade de fatores.

Thomas utiliza repetidas vezes a palavra Kontakt.

A noite trabalhamos com a cena em que Rigoletto vai até o quarto da filha. Quarto onde a mantem aprisionada. Fica com uma baba e tem autorização apenas para ir à Igreja. Contudo, a baba aceita propinas para o duque a possa ver.

Nesta cena, a um tom de leveza pelo encontro do pai com filha amada. Ao mesmo tempo existe uma dificuldade que reside no fato de que Rigoletto esconde muito dela e ela quer saber. Saber o nome do pai, saber da mãe. Saber porque não pode sair, porque tantos cuidados, etc. De certa maneira, ela quer uma identidade. Aquele quarto já não lhe é suficiente.

O ator/cantor e a atriz/cantora, excelentes por sinal, resolveram muito bem e rapidamente a cena. A estratégia é improvisação e ao poucos fixação de marca. É ótimo acompanhar o trabalho dos cantores. Como eles já tem o texto decorado e possuem um estrutura ritmica precisa. A única coisa a se fazer é encontrar as ações físicas corretas, a movimentação e conseguir estar entregue ao fluxo do canto. Conseguir cavalgar a música.

Segue uma foto com o caderno de registro dos ensaios. Há um sistema onde de um lado fica a partitura e de outro uma folha limpa para anotações. 

Livro Protocolo

Livro Protocolo do Regie Assistent







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