sábado, 14 de abril de 2012

Zurück...

voltar... as vezes é difícil sair de um novo estado de coisas, um novo modo de vida, do novo voltar para o velho. o novo cria em você a impressão de vida. é como retornar ao estado de criança e tudo tem novamente um colorido, mistério, um ar de aventura.
A aventura do novo é tão intensa que quando é chagado o momento de deixá-la nos sentimos tristes. Retornar ao velho implica num retorno à algo que você não é mais. Duas opções se apresentam: readaptar-se ao que foi antes ou inventar um novo lugar para estar.

Colega de apto, Juliane, não foi só o estágio. O aprendizado intercultural em "casa" também foi intenso.

Katrin, colega de apto.

Colegas de Apto.

Colegas de Apto.

Vista do terraço do Theater Freiburg

Experiências interculturais.

Hora de partir.

O tempo não para....

Últimas Reflexões


O processo de finalização de um espetáculo é sempre o mais empolgante. Quando cenário, figurino, luz e outros elementos adquirem forma concreta e podem ser visualizados, tocados, cheirados a magia da cena tem lugar. Auf dem Bühne tudo é absolutamente concreto e a solução de questões não permite devaneios, apenas decisões objetivas e experimentações. A expressão de ordem na cena é: “funciona ou não funciona”, quando não funciona tem lugar outra pergunta: “por quê?”. Esta pergunta exige uma resposta absolutamente ativa que abra espaço para algo passível de ser testado.
Na atmosfera intensa e nervosa dos ensaios gerais, a criação é como um jogo de futebol em final de campeonato. A adrenalina mobiliza nervos, pele, músculos e ossos. A concretude da cena não permite estados sonolentos, exige e permite apenas uma atitude absolutamente desperta, viva. No momento de levar o espetáculo para o palco, não se está falando mais em arte do ator, mas, em arte do encenador. A arte do ator tem lugar novamente na estréia e então o diretor/encenador desaparece. Agora, é exigido do encenador que administre e articule uma infinidade de elementos, tempos, ritmos, sonhos, projeções, desejos, maquinarias e etc, etc.
Penso que o prazer do diretor esta na constante oscilação de adrenalina no processo de criação. Em um instante é tomado de uma grande alegria quando um ator ou uma cena funciona, em outros é tomado de uma grande raiva por não conseguir visualizar no palco o que quer.  Este constante de altos e baixos é extremamente instigante.
Uma constatação hoje. Um dia Thomas disse que por ele eliminava a orquestra por ser um espaço muito grande que distancia público da cena. As óperas que assisti aqui tem uma característica que é a de utilizar o espaço cênico de forma bastante aberta, um espaço profundo e a cena de certo modo distanciada do público. Thomas, ao contrário, utiliza em Rigoletto um espaço tridimensional e profundo, mas, aproxima enormemente a cena. Toda a ação principal do espetáculo ocorre na frente o mais próximo possível do público.

Foto do Espetáculo - by Maurice Korbel

Foto do Espetáculo - by Maurice Korbel

Foto do Espetáculo - by Maurice Korbel

Foto do Espetáculo - by Maurice Korbel

Foto do Espetáculo - by Maurice Korbel

Foto do Espetáculo - by Maurice Korbel

Foto do Espetáculo - by Maurice Korbel

Foto do Espetáculo - by Maurice Korbel


Foto do Espetáculo - by Maurice Korbel




Quarto de Gilda finalizado... Foto by Leonel Henckes


Considerações sobre ensaio do dia 12 e 13.03 - Cenografia



Conversando com Simeon aprendi algumas coisas legais sobre cenografia. Ele contou que Rigoletto era seu primeiro trabalho como cenógrafo de óperas e a partir deste ponto mostrou-me algumas diferenças entre se trabalhar com uma arte ou outra.
Em primeiro lugar algo que Fausto já havia me contado sobre a estrutura fechada na qual se monta uma ópera. A elaboração antecipada da concepção e o fechamento antecipado da cenografia, do figurino é uma especificidade das óperas. No trabalho com atores o caminho é um pouco diferente. Segundo Simeon, a ópera exige menos, pois, você elabora o projeto e faz uma maquete e está pronto. Tudo será apenas executado, não será necessário transformar muito aquilo. No teatro o cenário está constantemente em processo. Os atores e o diretor no decorrer dos ensaios vão tendo novas idéias e reelaborando a proposta cenográfica. A partir disso o cenógrafo precisa estar se adaptando também, propondo elementos, soluções e estimulando igualmente a criação.
Conversamos sobre o fato de que cenografia e cena precisam estar em um casamento harmônico. Precisam estar em diálogo e não concorrer. Grandes palcos e grandes espetáculos pedem grandes cenografias e estas podem contribuir muito para o sucesso do espetáculo. Nesse sentido é importante que haja um diálogo fecundo com o diretor e uma compreensão plena da concepção sobre a qual se está trabalhando.

A música, a orquestra é o fluxo que precisa ser seguido, isto ficou muito claro com a entrada da orquestra nos ensaios de ontem e de hoje. O problema de ritmo verificado no ensaio geral praticamente desapareceu com a presença do regente e da orquestra. A ação ganhou igualmente mais pulsação.


Técnicos montando o cenário antes do ensaio.

Assistente de Figurino (dir.) Annika Kneusslin e Assistente de Figurino Estagiária (Esq.) Eleonora Arnold

Quarto de Gilda quase finalizado.

Quarto de Gilda quase finalizado.

Assistente de Figurino (dir.) Annika Kneusslin e Assistente de Figurino Estagiária (Esq.) Eleonora Arnold  e Eu passeando num intervalo.

15.03. 2012 - Último Ensaio



O último ensaio. Depois de quase um mês e meio vivendo intensamente cada dia de um processo criativo ao lado de pessoas extremamente especiais, é chegado o momento das despedidas.
Muitos desafios vencidos, principalmente a barreira da comunicação. Pessoas que por um tempo tornaram-se próximas e que talvez eu não volte a ver. Construímos todos juntos um belo espetáculo.

14.03.2012 - Quando a música tem mais poder



No ensaio de hoje uma surpresa. O tenor foi substituído. O ensaio foi com figurino, Orquestra e luz. A luz está bem melhor e amanhã chega um novo tenor vindo de Londres. Estou um pouco tenso com tudo isso.
Uma constatação sobre encenação:
Lembro que Aldri tinha a ideia de fazer a neve em “Namibia, Não!” usando projeção. O diretor não concordou e criou uma neve de isopor caindo pela janela do fundo do cenário. Em Rigoletto, o palco é todo branco e na cena da tempestade, ela é criada com uma projeção na frente, dentro, em cima do cenário. A teatralidade ganha espaço de maneira brilhante e simples. Isto é sair de uma convenção realista. Isto é ser contemporâneo. 

12.03.2012 - Leitmotv



Hoje no ensaio com a Orquestra compreendi um pouco melhor o que Thomas havia dito outrora sobre a música e a cena em Verdi. Com a Orquestra ficam evidentes os Leitmotivs e como a música preenche os espaços de ação como se fosse uma trilha sonora. É legal perceber quando a ação foi bem  desenhada e foi compreendida pelos cantores de modo a formar um perfeito encaixe ou quando o cantor compreende os momentos em que sua ação esta em confronto com a música.
A Orquestra trouxe outra questão interessante. A música cria um conflito com a ação. Antes quando era apenas o piano, o pianista ajustava. Agora com a Orquestra o canto precisa estar harmonizado coma música e isto as vezes não se encaixa com a ação no sentido orgânico.


Seguem fotos dos ensaios de iluminação.




Teste de projeção de imagens sobre o cenário.

Cenário já finalizado.

Cenário já finalizado.

Detalhe da janela do cenário já finalizado.

Casa 3 do cenário já finalizado.

Vista do urdimento.

12.03.2012 - Ritmo, ou você tem ou você não tem.



Tim conversou comigo sobre o ensaio musical.
Segundo ele não foi muito bom. Os cantores estão com problemas musicais de  ritmo e afinação. Este ponto me parece importante ser refletido. Ele disse que muitas vezes os cantores são livres, sem medo, bons atores etc, mas, não são precisos em afinação e ritmo. Às vezes os cantores têm as duas qualidades.
Tim foi drástico ao afirmar: “Ritmo é uma coisa que você tem ou não tem.”
No ensaio com o pianista, ele pode atrasar ou esperar etc. no caso da orquestra, ela vai e você precisa estar com ela e sobre ela. Como se estivesse cavalgando. A orquestra é o cavalo.
A cena trabalhada foi o prelúdio de Juan. Quando ele entra como clown sozinho no palco.
Legal o modo como Thomas constrói a relação dele com a orquestra e com o público visando o estabelecimento do leitmotiv e introdução da história.
É curioso como o cantor é obrigado a fazer uma cena de clown sem ter sido iniciado. Ao mesmo tempo é legal como não tem misticismo no clown.
No final funcionou e ambos, diretor e cantor descobriram pontos interessantes como a relação de Rigoletto com a Orquestra. De como e porque ele pega o instrumento de sopro e etc.
Hoje fiquei profundamente emocionado com o trabalho de Thomas com Juan na cena clownesca. Foi muito lindo ver Thomas trabalhar. Vejo muito a ideia de contato no modo como ele trabalha com os cantores. Ele se envolve e joga junto com o ator. Está junto intensamente dando energia e inspiração.
Lembrei, também, da professora Rosane Cardoso. De suas aulas, dos momentos com ela no Caixa Preta, da intensidade da sua relação com os alunos. Rosane compareceu ao ensaio aqui hoje, ao menos em minha memória. Foi um momento lindo.
Thomas busca na cena que está sendo trabalhada agora com a cantora que substitui Madalena, a compreensão de que não se trata apenas de lugares no palco para estar e cantar. Também não se trata de olhar por olhar, como marca. É ação, é aktiv. Thomas leva os cantores a perceberem todos os momentos, os micromomentos de ação.
A questão é sempre: como resolver na cena? Concretamente.

Encontros extraoficiais



Em uma conversa com uma das atrizes do elenco estável de atores do Theater Freiburg, pude conhecer um pouco mais a cena teatral alemã e o trabalho dos cantores na ópera.
Ela me falou que os cantores de ópera são acomodados, sabem cantar e ponto, isto basta. Interessante é quando você enxerga um cantor e busca algo mais (citou a montagem de Otelo e a sopranista).
O paradoxo do cantor de ópera é a música. É uma estrutura fechada, dura. Conseguir fluir e ser vivo dentro dela é o desafio. Quem consegue é genial. Como Callas.
Disse ela: “quando vejo um espetáculo de ópera, me interessa perceber quem busca algo mais...”
No que diz respeito aos teatros estatais, nem tudo é perfeito.
A conversa começou com algumas insatisfações deles em relação ao trabalho. Um problema é o excesso de atores na Alemanha. Todos os anos saem das escolas mais de 20 mil profissionais que buscam vagas nos teatros estatais. Logo, há muita oferta e assim dificuldade em se manter em um teatro por longo tempo. Há, também, mais mulheres do que homens na profissão o que dificulta o campo para as mulheres.
Tanto ela quanto outros atores manifestaram o desejo de ter um ano livre. Um ano sem a burocracia do teatro estatal, sem estar em cartaz com várias peças ao mesmo tempo. Um ano para experimentar, fazer cursos etc.

07.03.2012 - Problemas de Ritmo... na ópera??



Hoje ocorreu um ensaio de 2 horas para acertar movimentação do palco, tempos e etc.
Durante a tarde, ensaio de luz e agora a noite, ensaio geral.
O ensaio geral é feito com luz, figurino, cenário e até legenda. Vai ser muito legal.

A função do assistente de direção aqui é a mesma do Brasil. Anotar o que o diretor fala, seus apontamentos etc.

Começou o ensaio.
De imediato apareceram os problemas de ritmo. Curioso pensar em problema de ritmo em se tratando de uma ópera.
Ficou evidente que em cenas de grupo é importante organizar os núcleos.
É ótimo ter um ensaio geral com 2 semanas de antecedência. Ter o tempo para arrumar e perceber todos os problemas com grande antecedência.
A sensação após o primeiro ensaio geral é sempre desoladora. Muito trabalho por ser feito ao mesmo tempo em que há um bom resultado já alcançado. A imagem que ficou para mim é a do diretor sozinho no palco ao final. Colocou seus óculos e procurou alguém na plateia. Não parecia buscar ninguém, somente uma resposta, talvez. Uma aprovação ou desaprovação. Qualquer coisa.
O ponto mais problemático me pareceu ser as últimas cenas, ou seja, as menos ensaiadas. A luz precisa de suplementos e a cenografia funcionou maravilhosamente.
Após o ensaio, nos reunimos na cantina para conversar.
Thomas falou com todos. Começou indicando um filme de Felini para Fausto. Outra referência cinematográfica para todos foi Tarantino.
É tão lindo trabalhar com profissionais sem pessoalidades, sem ego, com compreensão, carinho e afeto.
Tanto o teatro como a ópera são artes feitas a partir do encontro entre pessoas. Este encontro não precisa ser transcendental, mas, apaixonado. Não precisa ser monástico, mas, lúdico, inspirado, leve, conflituoso e criativo.
Estou realmente emocionado. Triste, também, por estar tão próximo de eu voltar para o Brasil.
-- Para mim, o principal problema ontem, esteve na luz, nas entradas e saídas e em algumas cenas mecanizadas e não compreendidas. Também, problema de ritmo.
Thomas busca, me parece, o entendimento do lugar de cada coisa na obra do autor. Qual a função do coro em Verdi? Certamente há características que o diferenciam de um coro de outro compositor.
Perceber, também, o que é exagerado e que precisa ser dosado é um ponto fundamental.
As artes d palco são sempre amplamente mutáveis. Hoje a não funcionalidade da árvore e da fonte no quarto de Gilda fez com que buscassem de imediato uma nova solução. A ideia foi abolir a tridimensionalidade e colar as imagens na parede de modo bidimensional.
A cena ficou limpa e aberta.
Na iluminação um truque interessante. Utilizaram fluorescentes comuns. São 4 lâmpadas como fluorescentes nas laterais do palco.


Ensaio com o Coro em cenário original. 
Quarto de Gilda original carecendo apenas de acabamento.

Cenário quase finalizado.

Cenário original quase finalizado.

Vista do cenário quase finalizado. No palco estão o cenógrafo Simeon Meier (em amarelo) e Petra (inspizienz). 

Iluminação sendo experimentada sobre o cenário.

05.03.2012 - “precisam ir para uma escola de atores.”



Um novo Borsa.
Hoje Thomas após trabalhar repetidas vezes uma cena voltou para sua mesa e disse: “precisam ir para uma escola de atores.” ele fez um trabalho interessante, disse para a cantora: “qual é o fluxo da ação, contra-ação?”  e construiu para ela uma lógica de ação que a deixou mais ativa.
Hoje trabalhamos com um novo Borsa e a cena ganhou em qualidade.
Na cena seguinte, com Sparafuccile, novamente a questão da música e, neste caso, uma relação integrada entre música e ação.
Pela noite, no palco, trabalhamos com o coro novamente. O cenário já era uma versão definitiva, faltando apenas acabamentos. Testamos a movimentação do palco e Thomas concluiu que a cena final não funciona conforme o planejado.

02.03.2012 - Sobre Verdi e Encenação



Thomas falou de algo que preciso perguntar de novo sobre a música de Verdi. Eu não peguei muito bem, mas, disse que a música pode ser utilizada para a cena ou não.
O termo orgânico é muito utilizado, tanto pelos músicos quanto em relação a ação na cena e em relação aos elementos. O dramaturgo está sempre presente e é constantemente consultado.
É interessante pensar no trabalho que antecede o início dos ensaios. Quando o diretor junto com a equipe elaborou a concepção.
Embora haja uma concepção elaborada, há muito espaço para criação. Fausto, contudo, me contou que em geral a ópera tem um tempo curto de montagens e que os diretores, muitas vezes passam para o assistente a marca e este ensaia os cantores. Thomas trabalha experimentando, ouvindo os artistas e dialogando. Muitas vezes ele mostra o que ele quer.

01.03.2012 - Sobre o Medo



Estamos a 19 dias da estreia. Estou ansioso e apreensivo para ver o que irá ocorrer nos próximos ensaios.

Sobre o medo
O medo faz com que o cantor/cantora não seja tão eficiente quanto pode ser. O medo bloqueia o trabalho.
Ontem assisti uma grande cantora com uma voz belíssima e ela era boa por não ter medo.
É tão mágico quando a solução das cenas vai se revelando no decorrer do processo. Como hoje no caso da cena de Giovana. Havia um problema no estabelecimento do conflito na cena. Thomas direcionou a ação para dois planos (dentro e fora do quarto) o foco de Giovana passou para fora, para o Duque que ali estava. O duque deixa cair seu relógio e isto desencadeia a tensão que leva Rigoletto para fora do quarto. Quando o Duque entra no quarto, Giovana sai e se posiciona na boca de cena assistindo a cena apresentada no quarto. No final, ela entra correndo atravessando o espaço entre o casal e os separa pedindo para o Duque partir, pois, Rigoletto está por perto.
Esta entrada brusca, levar a cena para fora do quarto e usar a boca de cena, todos estes elementos deram concretude a situação. Tornaram-na objetiva, real.
Estamos trabalhando hoje na preparação da substituta de Alexssandra em casos de doença e eventuais problemas. Todos os solistas possuem um substituto preparado.
Era uma cantora chinesa com um trabalho muito bom. Ela é uma excelente cantora e também interprete. Deu um colorido especial à ária de Gilda.
Ao final, vejo que o ensaio foi produtivo e tranquilo. É legal observar como a cantora chinesa é extremamente técnica.

Abend
Heute abend der Probe fang mit dem quartet an. Ich leider später ankommen, aber, kein problem. O ensaio ocorreu de maneira bem legal. Experimentamos luz e a atmosfera estava muito leve e descontraída.
Uma pequena crise, o diretor musical achou um pouco exagerado a força de atuação do duque visto que a cena musicalmente é pianíssimo. Thomas não concordou muito, mas, aceitou. Eu acho que ficou igualmente bom, mas cabia o que havia sido feito anteriormente.
 Gosto deste modo de trabalhar já com todos os elementos, atmosfera, luz, figurinos etc. é possível ir testando as coisas. No caso de não funcionar, substitui-se.
A cena final está ficando ótima. É interessante como o ensaio no palco fez com que as coisas ficassem mais claras e agora as soluções estão bastante palpáveis.

29.02.2012 - Um mês de ensaio



Já faz 1 mês que estou aqui na Alemanha. Às vezes me sinto muito bem e as vezes não muito. É como se de algum modo eu soubesse como esta vivencia será processada e utilizada por mim e em outras não. Às vezes é como se eu estivesse perdendo um tempo precioso. Nos ensaios da ópera, sinto que estou aprendendo muito, principalmente, estou amadurecendo meu olhar como diretor. Espero que isto venha a trazer bons frutos para mim no futuro.
Acompanhar o trabalho do Thomas é bastante enriquecedor. Ele é muito generoso, inteligente e suas ideias são bastante criativas. Sinto que estou em meio a pessoas realmente muito especiais.
No ensaio de hoje, novamente no palco, finalizamos a cena com o coro e funcionou. Parece que está funcionando.

25, 26 e 27.02 – Primeiros ensaios no palco



Hoje dia 25.02 ocorreu o primeiro ensaio no palco da Großes Haus. Cheguei ao teatro de manhã, empolgado pelo fato de que ensaiaríamos no palco principal do teatro. Tudo já estava pronto. Uma réplica do cenário estava montada em tamanho real. Uma das casas que compõe o cenário já estava no seu formato quase definitivo e muitos técnicos trabalhavam para ajustar tudo.

Palco preparado para o ensaio. Casa 2 - quarto de Gilda em versão provisória para ensaio. No fosso da Orquestra estão o diretor Thomas Krupa e Tim Jetzten (Assistente).
Técnico finalizando a Casa 1 do cenário provisório.


O foco principal do ensaio foi testar a movimentação do palco giratório no tempo das cenas e da música. Conheci a figura da inspizienz, Petra Deißler-Benoit. Que seria a chefe de palco. Eu e Petra nos tornamos amigos, uma pessoa de alma belíssima. Ela que coordena desde uma central os técnicos, a movimentação do palco, a gravação de cenas e o contato com outros setores do teatro.


Central de operação do Inspizienz (chefe de palco)

O ponto era a transição de palco para a entrada de Sparafuccile, a movimentação para a chegada do quarto de Gilda, depois, para o terceiro ato até a morte de Gilda onde ocorreriam muitos efeitos.
Utilizando uma versão de Rigoletto gravada em CD, testamos os tempos da música num exercício minucioso.
No ensaio de palco, também, tivemos o primeiro contato com o coro e era preciso inseri-lo na encenação. Quanto trabalho. Mais de 25 pessoas para serem organizadas organicamente nas cenas, compondo situações e dinamizando o trabalho. As atrizes que estavam trabalhando como figurantes mostraram-se extremamente importantes neste processo. Elas garantiam um mínimo de ritmo na movimentação do coro e davam vida à ele. Parecia-me, por vezes, que um coreógrafo conseguiria resolver rapidamente aquelas cenas. Contudo, Thomas parecia buscas soluções no âmbito da encenação, do teatro. Queria o aktiv e queria o kontakt.
No primeiro dia tudo transcorreu de maneira tranquila.
No dia seguinte, para minha surpresa Tim ausentou-se do ensaio. Assumi sozinho, a função de Assistente de Direção. Foi muito tenso, sentia estar atrapalhando o tempo todo. Mantive-me sentado anotando marcas e me mantendo atento ao libreto para quaisquer eventualidades. Thomas ficava muito irritado quando necessitava encontrar uma página e ninguém dizia rapidamente qual era. Tim era muito bom nisso, em antecipar as necessidades do diretor.
Os três ensaios no palco, ficaram centrados na inserção do coro na estrutura das cenas. A orquestra ainda não compareceu aos ensaios. Houve também testes de figurinos e chegaram as Máscaras.
Em geral, os ensaios no palco são um pouco tensos. Por um lado por chegarem agora os cantores do coro. Por outro, por ser ali o lugar e o momento em que surgem os problemas, ou, eles se tornam visíveis.
Hoje (27.02) particularmente, esta sendo interessante ver como se trabalha com um grande número de pessoas no palco. É preciso equilibrar a cena e conseguir os efeitos desejados fazendo com que todos ajam.
Aos poucos a estrutura da cena foi sendo desvelada. Isto se deu a partir da compreenção das relações entre os personagens na cena.
As relações foram de certa forma definindo os lugares e o desenho da cena. Também a atmosfera e a energia foram sendo encontradas.
É impressionante como a compreensão precisa dos objetivos e tarefas ajuda no desenrolar orgânico e funcional da cena.
Novamente ficou evidente o problema dos atores com excesso de ação ou de fazeção. Thomas disse para a atriz: “fica aqui e não faz nada”.
Fomos para o intervalo e na sequência experimentamos a ária de Gilda com o coro fazendo bonecos. Foi lindo.
Thomas insistia muito para que as atrizes fossem orgânicas. Algo parecia não acontecer na cena. O problema era foco talvez? Realmente, porém, outro problema ficava evidente. Os cantores trabalhavam no ritmo da música e a cena parecia pedir outro ritmo.
Parece que a questão é mais do que meramente coreográfica. É de ação. É encontrar o desenho do conflito. Resolver as relações.
A questão da situação apareceu com força. Por vezes parece que uma intervenção coreográfica resolve, mas, é ilusão. Apenas a compreensão da situação e seu desenho exato pode resolver a cena. No caso da cena com o coro, em que Gilda é raptada, o problema estava justamente na falta de uma situação definida para o coro. Não há situação, este é o problema.


Seguem fotos do primeiro ensaio no palco com uma versão provisória do cenário:



Uma das casas quase concluída em sua versão definitiva.

Vista do cenário sobre o palco e a extensão do palco ao fundo onde outros cenários são guardados.

Cenário com partes originais em processo de construção e outras partes provisórias.


Teste de projeção sobre cenário provisório.

Cenário provisório, coro e solistas.

Quarto de Gilda em sua configuração provisória.

24.02.2012 - subtexto na ópera



Hoje trabalhamos a ária de Gilda. Um acontecimento interessante me chamou a atenção. O pianista disse para ela sentir a música lhe envolver. E sugeriu um subtexto: “kuss, kuss, kuss”.
Eu acho que esta ária é um orgasmo. Também, o que se sente quando se apaixona perdidamente.
Me parece que o foco físico é a coluna – ondas, o fluxo que percorre a coluna. Os chákras da raiz e do plexo funcionam e estão abertos.
- tempo-ritmo
- concretude musical
- entender Grotowski e Stanislávski trabalhando em uma ópera
- fluxo, impulso, ação, intenção
- transformação é movimento
Há, por vezes, um conflito entre o que o ator visualiza de dentro, sente, imagina ou deseja e o que o diretor quer. Este conflito é tenso as vezes, principalmente quando o ator não consegue se desvencilhar de suas convicções.
A música dá os “starts” de mudança de ritmo na ação e as transformações, isto é bom. Falta ao teatro, por vezes, este fluxo rítmico. Seria ele só aplicado ao drama?

Abend

Thomas começou a abordagem da cena com Juan pela questão: “qual é a situação?”
Uma vez mais a ideia de que o impulso primeiro nem sempre é o mais adequado veio a tona. Talvez seja ele mesmo o clichê.
Ao invés de imediatamente fugir da visão da filha morta, Rigoletto encara a filha, busca uma identificação. É justamente fugir do impulso representativo primeiro e buscar um impulso mais próximo do comportamento humano o caminho que visualizo.
Como saber quando é um impulso genuíno e quando é representação?
Que curioso, na última cena, Rigoletto fala ao invés de cantar, duas palavras. Foi uma sensação tão gostosa.
- um problema em relação ao canto. Como estar em posturas corporais não típicas do canto e cantar?

23.02.2012 - 3º Ato


Vormittag
Mais um princípio de Thomas é trabalhar com atmosfera através da luz e dos adereços e cenografia o mais originais possíveis. Relação concreta com o real. Nada é imaginário, tudo é concreto, é “aqui e agora” o tempo todo. Aqui um paralelo com o exercício com objetos imaginários de Stanislávski e a leitura dele por Grotowski.
É cada vez mais claro para mim como a intenção, no sentido de consciência de discurso e de situação é um dos pontos chave. A partir de então, menos passa a ser mais.
Sobre o trabalho do assistente de direção, aprendi hoje com Tim a importância de antecipar o diretor sempre e em tudo. Perceber o andamento dos ensaios e, conhecendo o texto, saber que no próximo ensaio possivelmente ele solicitará uma garrafa ou dinheiro falto, enfim. É como se a demanda ficasse engatilhada de modo que quando o diretor disser: aqui seria bom ter.... Você já diz: tá aqui.
Conversando com Tim sobre ópera, ele me explicou que em Wagner dificilmente há aplausos. As óperas de Wagner são para provocar raiva, tensão. São sempre bastante lineares.
Thomas propôs e falou hoje sobre não ilustrar a música, mas, criar uma oposição. A ação é uma com uma atitude e o ritmo da musica pode funcionar como trilha.

3º Act –abend probe.

Eles estão sentados agora fazendo uma analise ativa. É curioso como eles não levam nada para o ator resolver. Eles decidem na cabeça. A discussão era sobre como resolver o 3º ato.
- Quem e qual é o foco nas cenas?
- O que faz o ator? Qual sua ação?
Cheguei a conclusão de que a análise ativa é interessante para a ópera. É uma ferramenta muito importante para evitar este tipo de crise.
Há algo na concepção que agora, no terceiro ato, parece não funcionar.
Was zu tun?
Masoquismo, mostrar para Gilda o Duque com outra mulher. Isto que faz Rigoletto.
A pergunta é: o que acontece no universo emocional de Gilda no 3º Act?
Percebi que são contrários a qualquer solução aparentemente simples. Buscam sempre cavar um pouco mais em busca de algo menos óbvio e fácil.

22.02.2012 - Conversas


No ensaio de hoje, Thomas apenas conversou com o protagonista que estava doente. Falou basicamente sobre a concepção. Foi como se, após a pausa do carnaval, Thomas não satisfeito com o que havia alcançado até ali, resolvesse conversar com eles a fim de esclarecer a concepção e alimentar o imaginário dos atores/cantores.
Observo nisso uma característica comum aos processos de encenação que acompanhei no Brasil. Há um primeiro momento de experimentação e um momento onde se faz necessário uma tomada de consciência do processo. É como se a análise ativa com os atores (teoria) viesse a posteriori.
Primeiro se explora as situações, as cenas, as motivações de maneira até intuitiva. Depois, faz-se o ensaio de mesa, debate-se personagens, cenas etc. É mais ou menos como trabalhávamos em Santa Maria. Primeiro o treinamento, depois a improvisação de situação e criação de partituras e cenas estruturadas, finalmente, senta-se e compreende-se o que se busca e vasculham-se racionalmente os pormenores das situações.
No caso de Rigoletto, as conversas parecem ter funcionado para precisar as intenções dos cantores na cena. A utilização de iluminação nos ensaios é outro dado que ajuda na feitura da atmosfera da cena. Lembrei muito dos ensaios de “Últimos Capítulos” e “Horla” que ganhavam muito quando o ensaio era feito com luz e criação de atmosferas.
É ótimo trabalhar com tudo sempre a disposição e com os elementos já nos ensaios.
Pontos importantes:
- a compreensão da situação;
- estar ativo na cena;
- geralmente as cenas com menos movimento são as mais fortes;
Thomas faz sempre perguntas. Uma das mais recorrentes é: “o que você está dizendo?”
Descobrir (entdecken) a marca, a ação junto com o ator, em contato com ele no calor da cena é realmente muito importante. Novamente recorro a Anne Bogart quando esta fala de seu prazer em conhecer pessoas e de estar em contato com artistas na tensa atmosfera da sala de ensaio.
A conversa seguiu:
- Rigoletto é atormentado. O tempo todo, os fantasmas do seu ato estão presentes.
- Ficou claro agora, que a falta de conflito (no sentido de isto estar plasmado em ação) e a falta do “activ”, provoca o não funcionamento da cena. Quando a cena ficou “Activ”, começou a funcionar. O “activ”, desse modo, está de algum modo relacionado com o entendimento da cena, da situação.
Thomas inseriu um truque. O duque deixa o relógio cair fora da cena e isto desencadeia uma nova agitação dentro do quarto. Ao mesmo tempo, estabelece uma relação entre Giovana e Fausto que cria dois planos e conecta a ação para a entrada do Duque. É interessante que nesta cena estava-se buscando a solução dentro, na ação de Giovana. Contudo, estava faltando uma intervenção externa, como um estímulo que vem de fora e provoca uma transformação, movimento. Faltava deixar claro qual era a circunstancia dada para a saída de Rigoletto e agitação de todos na cena.
Agora há ação, finalmente funciona. Mas, para conseguir, foi necessário recorrer a recursos externos.

Abend
Novo problema. É preciso encontrar o tom adequado. Ela não é Maria Madalena e também não é Nossa Senhora dizia Thomas.
Observei hoje nos cantores que há uma recorrente antecipação das ações. Ou seja, não há vivência genuína.
É divertido ver Thomas dirigindo. Ele percebe a encenação como ritmo. Como se ele fosse o regente.
-- Impulso para eles é quase sinônimo de reação.
Depois de uma passada geral da cena, Thomas apontou pontos positivos e negativos. Trabalhou “starts”, velocidade, abertura de cena.
Como a função do diretor é uma função solitária. Ele está imerso em seu devaneio criativo e precisa intensamente fazer com que todos se envolvam.