segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Não é bom formalizar...

Cenário de ensaio - Quarto de Gilda
Ensaio do dia 14.02.2012 - Primeiro Ato - Encontro de Rigoletto com Sparafutille

Hoje logo cedo tive uma boa intuição sobre a presença de uma cama no espaço de ensaio. A cama havia sido experimentada no cenário, mas, como não funcionou havia sido removida. Minha intuição era para retirá-la, mas, não o fiz. Depois, o diretor chegou e falou para a assistente de palco e cenografia: tirem esta cama daqui, ela atrapalha. É interessante falar um pouco desta função, do Büehnebild. Por um lado seria o equivalente ao cenógrafo, contudo, esta função aqui na Alemanha é ampliada e este profissional é o responsável pelo palco: cenário, efeitos, entradas e saídas, iluminação (embora haja um iluminador), maquinaria, tudo que envolve o palco. É ele que dialoga com os técnicos do teatro e coordena a montagem.

Aktiv - aktivität

Thomas insiste novamente nestes dois termos. Ele quer que eles estejam continuamente ativos no palco. Estar ativo é contínuo. Não é estar com Stops (diz Thomas). Isto me fez prontamente lembrar de Grotowski e desta forma, entendi que o trabalho do encenador polones, seus princípios, são aplicáveis na ópera e sem tanto misticismo.

Pensei em como seria se houvesse um trabalho de improvisação anterior ao canto. Um trabalho no qual eles pudessem experimentar e fisicalizar as ações e a situação. Por vezes há alguma coisa que parece separar o canto da ação e é realmente complexa esta relação. No canto, há uma partitura extremamente rígida e existe um esforço para alcançar notas específicas. Por outro lado, me parece absolutamente possível desde que um guie e esteja conectado no outro e vice-versa.

Após algumas passadas da cena, Thomas disse: é bom não formalizar o que foi criado. Este ponto me pareceu complicado no trato com os cantores. Rapidamente tudo é formalizado, basta o diretor dizer: "isto é bom". Poderia fazer aqui um paralelo com Anne Bogart quando ela diz que um dos princípios da encenação é "a necessária violência", ou seja, quando o diretor ou o próprio ator decide: "é isto". A partir deste momento é preciso que "isto" seja repetido em estrutura e fluxo.

Contudo, o grande problema da cena ainda é a falta de conflito. Verdi colocou conflito na cena, mas, é preciso que os cantores compreendam a lógica dos acontecimentos e gerem conflito na ação. A estratégia de Thomas é sempre pelo jogo. Seu foco está sempre no real, no aqui, no palco, nas pessoas. A palavra alemã spielen me parece muito apropriada no processo creativo com atores. Tudo é jogo. Spilst du... brinque, jogue, atue. Contudo, me parece que há uma leveza no termo quando empregado em alemão. Falo de uma leveza que reverbera no psicológico do artista. Quando o diretor diz: Spilst du.. Não sinto o mesmo peso de "interprete", "atue" ou mesmo o nosso "jogue" ou "jogo" no português. Talvez para um alemão o peso seja equivalente, vielleicht!!!

É interessante que venho percebendo no decorrer dos ensaios onde podem caber determinados exercícios ou jogos para auxiliar na solução de determinada cena.

Ao final, passamos todas as cenas desde a visita de Rigoletto à Gilda até a chegada de Rigoletto novamente na cena. Depois, Thomas falou dos problemas e conquistas. Eu fiz o papel de Giovana (a cantora não pode vir) e do Coro que não está nestes ensaios ainda. É divertido. Brinco com Tim dizendo que quero um cachê pois estou fazendo todos os personagens da ópera.

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