quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

SedanStraße

Hoje posso dizer que começaram realmente os ensaios. Foi um dia maravilhoso.
De manhã fomos até uma sala ampla onde estava montado um protótipo em tamanho real do cenário projetado e cuja maquete havia sido apresentada no primeiro dia "Konzeptionsgespräch".
O ensaio foi acompanhado por um pianista todo o início até a primeira entrada de Rigoletto foi marcado.
Gostei muito da metodologia de Thomas. Ele parece utilizar muitos princípios da escola Stanislavskiana na condução dos cantores. Basicamente seu trabalho é estimular os atores/cantores a agirem dentro da situação da peça. Foi interessante perceber que o tipo de estímulo por ele utilizado estava focado ativação do imaginário dos cantores. As improvisações eram repetidas várias vezes e finalmente a cena era marcada e fixada por Krupa.

Toda a equipe está presente no ensaio. Figurinista, Dramaturg, Consultora de Literatura Italiana e Tradução, Assistentes de Figurino, de Cenário e eu, estagiário de Assistência de Direção.

Chamou a atenção o modo absolutamente aberto de trabalhar de Thomas. Ele abre espaço para que todos participem e a opinião e toda a equipe é importante. Ao mesmo tempo existe um clima de grande seriedade e respeito na sala de ensaio. Ninguém fala ou ousa ficar se deslocando pelo espaço. Todos ficam atentos ao libreto e a cena.

Hoje, no primeiro ensaio ativo, percebi o quão potente é a música, o canto na construção da verdade na cena. É como se o canto já oferecesse a estrutura por onde o fluxo deve ser conduzido. De outra forma, há o ritmo já estabelecido e, portanto, vivo. Aos atores/cantores, basta encontrar a fisicalidade correta e a atenção dirigida à atmosfera e a situação que aquele ritmo e aquele texto estão propondo. Irei refletir mais sobre isto no decorrer do processo.

O contato, nesse caso, se dá na relação com o canto que é uma partitura matematicamente estruturada. É como se houvesse algo correndo e o cantor precisa apenas pegar firme na coisa e se deixar levar. Montar no canto como se fosse um cavalo cavalgando livre.

Estou muito feliz de acompanhar este processo, também, por causa da concepção. Aquilo que me trouxe à Alemanha, ou seja, o processo atualização de obras clássicas em encenações extremamente modernas está ocorrendo de modo bastante rico. É lindo ver aquele canto/texto clássico em uma situação absolutamente coerente com o século XXI, sem contudo, ser forçada, óbvia e não orgânica.

Pela noite, o trabalho esteve centrado no personagem central, RIGOLETTO e na composição do seu Clown. Me parecia evidente que aquele ator/cantor tinha elementos muito clownescos que bastavam ser expressos e ampliados. A estratégia de Krupa foi exatamente esta. Novamente pela improvisação e colocação do ator em situação, conseguiu levá-lo a atitude e atmosfera que a cena de abertura exigiam. O processo foi maravilhoso.

Voltei para casa hoje muito empolgado. É maravilhoso estar em um processo cênico tão profissional com uma estrutura tão grandiosa no entorno. Acho que gosto deste tipo de produção. Há um comprometimento muito grande por parte de todos os envolvidos. Não é um interesse voltado para a conquista de outras coisas, outros trabalhos, fama, etc. É mais uma atitude de oficio. De pessoas que fazem aquilo o tempo todo  e que depois deste projeto há outro e outro isto quando já não há produções agendadas.

Os cantores chegam no ensaio prontos, aquecidos e com os cantos (textos) decorados. Isto é fantástico. Embora pareça rijo, há espaço para criação, há espaço para experimentação e há espaço para sair do trivial e descobrir algo novo, espontâneo.

Não sai da minha mente a imagem de Thomas em contato com a equipe e os atores/cantores. Uma atitude de total entrega e abertura sincera e generosa. Ele parecia saber muito bem o que buscava e ao mesmo tempo queria ver o que os artistas tinham para lhe oferecer. Me lembrou um pouco a atitude do encenador baiano Luiz Marfuz.

Bem, por hoje escrevo apenas isso. Muitos pensamentos tenho registrado em um caderno. Infelizmente não tenho autorização e nem seria ético publicar neste blog determinadas informações. Isto justifica, também, o porque não tenho publicado muitas fotos. Contudo, segue uma com uma bela vista do terraço do Theater Freiburg.


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